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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Um País de Canalhas

Um País de CanalhasPensar Portugal. Nós somos um país de «elites», de indivíduos isolados que de repente se põem a ser gente. Nós somos um país de «heróis» à Carlyle, de excepções, de singularidades, que têm tomado às costas o fardo da nossa história. Nós não temos sequer núcleos de grandes homens. Temos só, de longe em longe, um original que se levanta sobre a canalhada e toma à sua conta os destinos do país. A canalhada cobre-os de insultos e de escárnio, como é da sua condição de canalha. Mas depois de mortos, põe-os ao peito por jactância ou simplesmente ignora que tenham existido. Nós não somos um país de vocações comuns, de consciência comum. A que fomos tendo foi-nos dada por empréstimo dos grandes homens para a ocasião. Os nossos populistas é que dizem que não. Mas foi. A independência foi Afonso Henriques, mas sem patriotismo que ainda não existia. Aljubarrota foi Nuno Álvares. Os descobrimentos foi o Infante, mas porque o negócio era bom. O Iluminismo foi Verney e alguns outros, para ser deles todos só Pombal. O liberalismo foi Mouzinho e a França. A reacção foi Salazar. O comunismo é o Cunhal. Quanto à sarrabulhada é que é uma data deles. Entre os originais e a colectividade há o vazio. O segredo da nossa História está em que o povo não existe. Mas existindo os outros por ele, a História vai-se fazendo mais ou menos a horas. Mas quando ele existe pelos outros, é o caos e o sarrabulho. Não há por aí um original para servir? 

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 2'

Os Tempos não


   Os tempos não vão bons para nós, os mortos.
  Fala-se de mais nestes tempos (inclusive cala-se).
  As palavras esmagam-se entre o silêncio que transportam.

  É pelo hálito que te conheço  no entanto
  o mesmo escultor modelou os teus ouvidos
  e a minha voz, agora silenciosa porque nestes tempos
  fala-se de mais são tempos de poucas palavras.

  Falo comigo de mais assim me calo e porque
  te pertence esta gramática assim te falta
  e eis por que não temos nada a perder e por que é
  cada vez mais pesada a paz dos cemitérios.

  Manuel António Pina
  in Todas As Palavras

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Os meus Amores



São lindos os crisântemos!
Foram sempre as minhas flores preferidas, gosto do cheiro, da textura..., contrariamente ao que o comum dos mortais diz, lhes lembrar morte e cemitérios, a mim lembram-me vida e muito boas recordações dos meus amores que partiram.
Os meus amores vivem em mim, são um espelho em que me revejo todos os dias. Não lhes encontro defeitos, apenas a sua maneira de ser que tanto admirei e por isso adoro os crisântemos.



quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Livro de cabeceira, de sofá etc.

" Se a vossa geração tiver detença",
lhe pedi, "desfazei aquele nó
que ora embrulhou aqui minha sentença.

A Divina Comédia de Dante
" O inferno"

Cá dentro

Ando às Voltas
Na vontade de mim entranhas de livros
Ânsia de entrar e não sair 
Universos de outros que só agora posso lembrar
Tudo é sede em mim
Água que me aquece na sede que em mim despertou
Livros
Livros

Isaura M.Sousa