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quinta-feira, 27 de março de 2014

Branco

No branco da casa uma sombra rosada
Abelhas enamoradas penetram o doce 
Púrpura e glicínias num só sopro de vento

Entardece o vislumbrar das borboletas
Despenteadas e felizes ervas rodeiam os meus pés descalços 
De criança
Brinco e penso penso a brincar que brinco

Ao longe os primeiros traços da alegria
O adeus ao sol


Isaura Maria Sousa

segunda-feira, 24 de março de 2014

Gente

Não tem fim este silêncio do gritar das gentes,
Sombras famintas de tesouros,
Gigantes estas cordas que amordaçam o berço das canções.
Esperas e vigílias
Noites eternas sem o retorno da ternura e dos abraços
Sonhos névoa pura.
Soltaram-se as feras sem nome, feras apenas, invisíveis
Estão por toda a parte.
Fechem-lhes as portas, ponham-lhes trancas!
Sombras famintas de tesouros que nos vagueiam
E nos vão alimentando a alma e perseguindo 
O sorriso.

Isaura Maria Sousa

domingo, 23 de março de 2014



Ainda abri os olhos para te ver dormir
Na orla do mar apenas a gigantesca angústia de me perder
O choro interminável, frio.

A raiva devorava-me o sono
O acordar era longínquo  e escuro.
Mulheres de preto
Rostos sem rosto.

Ainda abri os olhos para te ver dormir
Atirei-te pétalas de desespero e sangue
O frio congelou o choro e as lágrimas partiram
Contigo.


Isaura Maria Sousa

sexta-feira, 7 de março de 2014

António Franco Alexandre

VI ROMA arder, e neros vários        
bronzeados à luz da califórnia
guardar em naftalina nos armários
timidamente, a lira babilónica;
as capitais da terra, uma a uma,
desfeitas em rumor e negra espuma,
atingidas de noite no seu centro;
mas nunca vi paris contigo dentro.
E falta-me esta imagem para ter
inteiro o álbum que me coube em sorte
como um cinema onde passava << a morte>>;
solene imperador, abrindo o manto
onde ocultei a cólera e o pranto,
falta-me ver paris contigo dentro.

António Franco Alexandre (1944)
Duende