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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Brilho

Não senti hoje ainda o perfume
Do rosto que é cera e arrefece
A água e o cristal.
Ajeito o olhar e sigo.
Só sinto a leveza, o silêncio e a tarde.
Céu.



Isaura M. Sousa



terça-feira, 23 de setembro de 2014

O teu nome



Milagres acontecem a menina mãe, 
o regaço amanhece e desfolha a flor
Perfeita.
Pura como a beleza da madrugada.

Nasce e amanhece livre, sempre!

Isaura Maria Sousa 

sábado, 30 de agosto de 2014

Casa

Há hoje uma luz.
Um sol.
Estranheza de tantos dias 
Luz e sol fogo e sementes de fervor.
Branco, etéreo e milagre.
É música o silêncio e viagens as ausências.
É uma luz de cal que dá sangue de vida.


Isaura M.Sousa

M. Rotko

terça-feira, 8 de julho de 2014

Sentir

Assim como a cal. Branca.
No rodapé do mundo o azul anil da alegria
A festejar as brincadeiras das crianças e o olhar fecundo dos avós que as guardam.
Etéreos espaços de luz
A cal das casas e o canto das cigarras.
Ainda tarda o quebrar do encanto no final da tarde.
Acontece o sol e o suspiro de uma ave acabada de chegar do longínquo céu.


Isaura M. Sousa


Verde

A exaustão das tardes desfia o calor
Aguarda qual frescura imaginada na aragem que foge
Do sol que escalda na rua
Refugia-se na sombra das paredes do quarto e do silêncio.
Do rumor se apressa e sustem a respiração, não vá acontecer o desmembrar do encanto da solidão.
Não digas que estou aqui!
É apenas uma equação de te tempo inventado e tão simples como os dias felizes.

Isaura M. Sousa


sexta-feira, 9 de maio de 2014

Casas





Uma luz.
Branca, límpida e clara como as manhãs frescas do sul,
sorrisos são as tuas palavras e silêncios, abraços, chegadas e partidas
a alegria da música.
O bálsamo dos dias difíceis e das horas interditas.
Não tens nome.
És tu, a presença da metáfora
tardes de sóis que queimam
que teimam em não se deixar aquietar na planura da paisagem.
Vou para lá do que vejo, os girassóis e as papoilas são a casa, a planície o país de verão.
Ficar aqui é a pureza
A liberdade
Não me faças perguntas!

Isaura M. Sousa

domingo, 4 de maio de 2014

POEMA À MÃE

No mais fundo de ti,
eu se que traí, mãe.

Tudo porque já não sou
o menino adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha-queres ouvir-me?-
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
    Era uma vez uma princesa
    no meio de um laranjal...

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.


Poesia de Eugénio de Andrade
" Os amantes sem dinheiro"

sábado, 26 de abril de 2014

Abril


Na ausência dos passos, rastos de música e alegrias.
Finjo que te procuro para não perder a esperança.
Encontro-te em cada silêncio que me espera,
Sei o teu sorriso e os ecos da tua alma são minha fortaleza.
O tempo é o futuro dos encontros e dos abraços 
Eternidades de olhares
Fugas e distâncias que são o nada...
Trocas.

Encontras o sol. Regressas ao primeiro dia como num amanhecer que acontece feliz e claro

Só amores e rosas no jardim da vida
Vozes que cumprem destinos
Mãos que tecem memórias de luz 
E palavras, árvores e folhas de papel que são a tua história
O calor do coração que não arrefece.
Penso-te e sinto um cheiro de primavera sem nome.                                                                                                                            


Isaura Maria Sousa


terça-feira, 22 de abril de 2014

O Portugal Futuro



o portugal futuro é um país
aonde o puro pássaro é possível
e sobre o leito negro do asfalto da estrada
as profundas crianças desenharão a giz
esse peixe da infância que vem na enxurrada
e me parece que se chama sável
Mas desenhem elas o que desenharem
é essa a forma do meu país
e chamem elas o que lhe chamarem
portugal será e lá serei feliz
Poderá ser pequeno como este
ter a oeste o mar e a espanha a leste
tudo nele será novo desde os ramos à raiz
À sombra dos plátanos as crianças dançarão
e na avenida que houver à beira-mar
pode o tempo mudar será verão
Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz
mas isso era o passado e podia ser duro
edificar sobre ele o portugal futuro


Ruy Belo

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Palmela (segredo)









Não deixes que termine o dia sem teres crescido um pouco,
sem teres sido feliz, sem teres aumentado os teus sonhos.
Não te deixes vencer pelo desalento.
Não permitas que alguém retire o direito de te expressares,
que é quase um dever.
Não abandones as ânsias de fazer da tua vida algo extraordinário.
Não deixes de acreditar que as palavras e a poesia podem mudar o mundo.
Aconteça o que acontecer a nossa essência ficará intacta.
Somos seres cheios de paixão.
A vida é deserto e oásis.
Derruba-nos, ensina-nos, converte-nos em protagonistas de nossa própria história.
Ainda que o vento sopre contra, a poderosa obra continua:
tu podes tocar uma estrofe.
Não deixes nunca de sonhar, porque os sonhos tornam o homem livre.


Walt Whitman

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Infância







É de noite.

Se adormeci no teu doce regaço sonhando com morangos quentes
Acabados de apanhar por ti, logo me acordas.
Fazes-me tão feliz! Uma felicidade que não conheço e não existiu nunca, só entre mim e ti.
Depressa percorremos as quelhas iluminadas pelos pirilampos e pelo candeeiro que transportas.
Será para mim a eterna luz.
Consigo ainda hoje ver-te de noite, sentir o teu amor.
A tua alegria e a luz que te transporta para lá de tudo o que nunca conheceste.
Chamas-me, respondo-te: - estou aqui!
A tua fé é a minha segurança, o teu amor, a estrada que me leva 
Ao teu doce regaço onde adormeço e sonho com morangos quentes.


Isaura M.Sousa

sábado, 5 de abril de 2014

Primeira noite




Era uma noite divina, uma noite que só pode haver, querido leitor, quando somos jovens! O céu estava tão estrelado, tão límpido que, olhando para ele, nos podia escapar a pergunta: será possível viver sob este céu gente zangada e injusta? Jovem é também esta pergunta, querido leitor, muito jovem, mas oxalá Deus a mande mais vezes à tua alma!... Por falar de gente injusta e zangada, não poderia também deixar de me lembrar do meu lindo comportamento durante todo o dia que passou. Desde manhã que uma magoa esquisita me começou a atormentar. De tão solitário que sou, parece que toda a gente me abandona e renega. Ora, qualquer um tem o direito, claro, de perguntar: mas quem é essa "toda a gente"? Porque eu vivo há oito anos em Petersburgo e ainda não arranjei praticamente nenhum conhecimento. Também, para que preciso eu de conhecimentos?
   (...)

Fiódor Dostoiévski (1821-1881)
Noites Brancas


quinta-feira, 27 de março de 2014

Branco

No branco da casa uma sombra rosada
Abelhas enamoradas penetram o doce 
Púrpura e glicínias num só sopro de vento

Entardece o vislumbrar das borboletas
Despenteadas e felizes ervas rodeiam os meus pés descalços 
De criança
Brinco e penso penso a brincar que brinco

Ao longe os primeiros traços da alegria
O adeus ao sol


Isaura Maria Sousa

segunda-feira, 24 de março de 2014

Gente

Não tem fim este silêncio do gritar das gentes,
Sombras famintas de tesouros,
Gigantes estas cordas que amordaçam o berço das canções.
Esperas e vigílias
Noites eternas sem o retorno da ternura e dos abraços
Sonhos névoa pura.
Soltaram-se as feras sem nome, feras apenas, invisíveis
Estão por toda a parte.
Fechem-lhes as portas, ponham-lhes trancas!
Sombras famintas de tesouros que nos vagueiam
E nos vão alimentando a alma e perseguindo 
O sorriso.

Isaura Maria Sousa

domingo, 23 de março de 2014



Ainda abri os olhos para te ver dormir
Na orla do mar apenas a gigantesca angústia de me perder
O choro interminável, frio.

A raiva devorava-me o sono
O acordar era longínquo  e escuro.
Mulheres de preto
Rostos sem rosto.

Ainda abri os olhos para te ver dormir
Atirei-te pétalas de desespero e sangue
O frio congelou o choro e as lágrimas partiram
Contigo.


Isaura Maria Sousa

sexta-feira, 7 de março de 2014

António Franco Alexandre

VI ROMA arder, e neros vários        
bronzeados à luz da califórnia
guardar em naftalina nos armários
timidamente, a lira babilónica;
as capitais da terra, uma a uma,
desfeitas em rumor e negra espuma,
atingidas de noite no seu centro;
mas nunca vi paris contigo dentro.
E falta-me esta imagem para ter
inteiro o álbum que me coube em sorte
como um cinema onde passava << a morte>>;
solene imperador, abrindo o manto
onde ocultei a cólera e o pranto,
falta-me ver paris contigo dentro.

António Franco Alexandre (1944)
Duende

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

António Franco Alexandre

Vou pôr um anúncio obsceno no diário
pedindo carne fresca pouco atlética
e nobres sentimentos de paixão.
Desejo um ser, como dizer, humano
Que por acaso me descubra a boca
e tenha como eu fendidos cascos
bífida língua azul e insolentes
maneiras de cantar dentro de água.
Vou querer que me ame e abandone
com igual e serena concisão
e faça do encontro relatório,
ou poema que conste do sumário
nas escolas ali além das pontes
E espero ao telefone que me digam
se sou feliz, real, ou simplesmente 
uma espuma de cinza em muitas mãos.

António Franco Alexandre
Quatro Caprichos
Assírio & Alvim, 1999

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014


                                    
                                          Jorge Luís Borges

OS BORGES

Bem pouco ou nada sei de meus maiores
Portugueses, os Borges: vaga gente
Que prossegue em minha carne obscuramente,
Seus hábitos, rigores e temores.
Ténues como se não tivessem sido
E alheios aos trâmites da arte,
Indecifravelmente formam parte 
Do tempo e da terra e do olvido.
Melhor assim. Cumprida a sua faina
São Portugal, são a famosa gente
Que forçou as muralhas do Oriente
E deu-se ao mar e ao outro mar de areia.
São o rei que no místico deserto
Se perdeu e o que jura que não está morto. 

Jorge Luís Borges in " O Fazedor"



SEM OUTRO INTUITO

Atirávamos pedras
à água para o silêncio vir à tona.
O mundo, que os sentidos tonificam,
surgia-nos então todo enterrado
na nossa própria carne, envolto
por vezes em ferozes transparências
que as pedras acirravam
sem outro intuito além do de extraírem
às águas o silêncio que as unia.

Luís Miguel Nava in " Vulcão"


















Fotografia de Adriano Bastos

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Quem

Espera.
O aproximar das aves, beijos molhados trazem nos bicos.
Espera,
e sente a felicidade de triste se saber triste.
Espera, por alguém, por quê,
por ninguém.
Na face a paisagem do gelo.
Impenetrável e pura como a quietude de quem toca no vazio.
Espera.
Adormecida.
Invisível.
As mãos estão abertas e esperam o cair da tarde e o repousar das aves. 

Isaura M.Sousa

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Traço

 Acontece quando se abrem as mãos,
se rasga a escrita como sóis de oiro ateando o fogo do trigo das tardes de verão.
São pequenas ainda as mãos e os dedos, 
já querem segurar o mundo com  um fino traço invisível no azul quente do tecto da terra.
Inseguras, frágeis e poderosas como o são as mais belas coisas do universo.
As mãos, os dedos, as espigas, o sol, o Agosto.
O fino traço, invisível no azul.

Isaura M. Sousa


terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Regressar Ao Corpo

Regressa o corpo,
desfolhados os segredos guardados de outros viajantes da vida,ergue-se a muralha e o silêncio vale oiro.
Rosto salpicado de papoilas na visão matinal.
Refeito do sopro do vento das terras do norte.
Cansado e desavindo,
feliz..., reecontrado...
Na noite o início do dia,
o sol em capricórnio traz o infinito, frases perfeitas quase certezas.
Voltados, corpos e gentes e sementes,
trigos e papoilas,
cantos e cotovias até ser novo dia.
Das mãos nascem margaridas e o prenuncio de novo dia.
Regressa o corpo.

Isaura M. Sousa

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Para o Eugénio de Andrade

Começamos por perseguir algo.
 Não podia evitar, era muito poderoso, demasiado importante. A poesia, as mãos ou os frutos ? O Eugénio ser em carne e osso ?
 Ficou guardada para ti esta transparente e honesta página da minha passagem pela vida. 
 Referência maior que mais estimo, conquista de sonhos, aprendizagem de luz. Até te encontrar vagueava e procurava algo mais do que sabia dizer, ficaste sempre presente na minha vida desde tenra idade e ajudaste-me a crescer alimentando o meu coração sedento da alegria da tua inspiração e sensibilidade, poeta da luz, poeta do sol, poeta das mãos, poeta dos frutos.
 Seria manhã ainda quando te procurei..., sempre soube que me esperavas com o teu rosto de cera em eremita, eu com a minha estranha incerteza de te olhar. Quase não te vi.Foi como se te tivesses embrenhado nessa matinal névoa da Foz que foi a nossa cúmplice. Por entre as janelas do olhar procurei-te e tardavas. A magia do sol que rasgou a bruma atraiu-te.Estavas sereno como um gato. Guardo-te nos lugares possíveis e impossíveis, nos que conheço e desconheço.
 Fizeste-me entrar na tua casa, vacilei..., pensei que não iria pensar, pensei que não iria sentir..., foste amigo e perguntaste-me o meu nome e o nome da minha filha.
  - Isaura
  - Francisca
Curioso, de repente fomos familiares como sempre imaginara, - Francisca é um nome com um sabor surrealista...Fanny Owen, Agustina, Manuel de Oliveira. O Eugénio voltou a sorrir, lindo vê-lo sorrir !
"A solidão, a criatividade e a poesia são uma fatalidade"
Obrigada Eugénio de Andrade.

Passeio Alegre, Porto no dia 25 de Agosto de 2001


sábado, 1 de fevereiro de 2014

Coração Habitado

Aqui estão as mãos. 
São os mais belos sinais da terra. 
Os anjos nascem aqui: 
frescos, matinais, quase de orvalho, 
de coração alegre e povoado. 


Ponho nelas a minha boca,
respiro o sangue, o seu rumor branco,
aqueço-as por dentro, abandonadas
nas minhas, as pequenas mãos do mundo.

Alguns pensam que são as mãos de deus
— eu sei que são as mãos de um homem,
trémulas barcaças onde a água,
a tristeza e as quatro estações
penetram, indiferentemente.

Não lhes toquem: são amor e bondade.
Mais ainda: cheiram a madressilva.
São o primeiro homem, a primeira mulher.
E amanhece. 



Eugénio de Andrade



quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

SABOR

Alguma pergunta me socorre quando adormeço no teu colo,
murmúrios e sorrisos infinitos dançam como sombras cambaleantes vindas do fim do mundo.
Retiro do peito frutos mirrados pelo vento e secos pelo sol.
Seguro as mãos, aperto-as e cerro os lábios com a mesma ferocidade com que partilho contigo este momento.

Isaura Sousa
30-01-2014


segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Quem não tem saudades ?

A invenção do amor



Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas
janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de apa-
relhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da
nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor
Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com carácter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia 
quotidiana
Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração e
fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado
Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo
Um homem uma mulher um cartaz de denúncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou A TV anuncia
iminente a captura A polícia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta 
fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique Antes 
que a invenção do amor se processe em cadeia
Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos


(...)

Daniel Filipe
A Invenção do Amor e Outros Poemas

domingo, 26 de janeiro de 2014

Regresso

A Estrada BrancaAtravessei contigo a minuciosa tarde 
deste-me a tua mão, a vida parecia 
difícil de estabelecer acima do muro alto 

folhas tremiam 
ao invisível peso mais forte 

Podia morrer por uma só dessas coisas 
que trazemos sem que possam ser ditas: 
astros cruzam-se numa velocidade que apavora 
inamovíveis glaciares por fim se deslocam 
e na única forma que tem de acompanhar-te 
o meu coração bate 

José Tolentino Mendonça, in 'A Estrada Branca'

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