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sábado, 5 de abril de 2014

Primeira noite




Era uma noite divina, uma noite que só pode haver, querido leitor, quando somos jovens! O céu estava tão estrelado, tão límpido que, olhando para ele, nos podia escapar a pergunta: será possível viver sob este céu gente zangada e injusta? Jovem é também esta pergunta, querido leitor, muito jovem, mas oxalá Deus a mande mais vezes à tua alma!... Por falar de gente injusta e zangada, não poderia também deixar de me lembrar do meu lindo comportamento durante todo o dia que passou. Desde manhã que uma magoa esquisita me começou a atormentar. De tão solitário que sou, parece que toda a gente me abandona e renega. Ora, qualquer um tem o direito, claro, de perguntar: mas quem é essa "toda a gente"? Porque eu vivo há oito anos em Petersburgo e ainda não arranjei praticamente nenhum conhecimento. Também, para que preciso eu de conhecimentos?
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Fiódor Dostoiévski (1821-1881)
Noites Brancas


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